Não tinha sido fábula a saudade
de estar ao pé de mim sem estar comigo:
vejo-te agora em água, areia, carne,
e és o vulto no sonho pressentido!
Cheiro de rocha a que não chega o mar,
por mais que o mar invente marés vivas...
Reconheço-te, ó palma tão sem par;
és a graça da terra ao céu erguida.
Pisas, ao caminhar, o próprio vento,
que se embuçou no manto de uma duna...
Desfazes sob os pés os grãos do tempo
por do Tempo não teres noção nenhuma...
De que me serve ter vencido sempre,
se aqui me vence a tua juventude?
David Mourão-Ferreira (Lisboa, Portugal, 1927 - 1996). Periodista, novelista y poeta. En 1981 fue escogido como Sócio Correspondente en la cátedra nº 5 de la Academia Brasileña de Letras. Entre 1963 y 1973, secretario general de la Sociedade Portuguesa de Autores. Ministro de Cultura entre 1976 y 1978 y en 1979.